Muito há para dizer sobre as eleições legislativas de ontem.
Ganhou a coligação PAF, o que pelos vistos chocou muita gente nas redes sociais, pois durante estes 4 anos muitos foram os protestos contra o governo em praticamente todas as áreas.
Assumamos que dos 9.439.161 inscritos para votar, 7.368.275 estavam claramente descontentes com o governo e queriam que ele caísse.
Pois estes 7.368.275 eleitores ou se abstiveram, ou votaram branco ou nulo ou distribuíram os seus votos por mais de uma dúzia de partidos. Os restantes 2.070.886 chegaram para ganhar as eleições.
Todos sabem que pelo menos 60% dos votantes no PSD, PS, PCP e CDS são "adeptos" do seu partido, ou seja, votam sempre nele seja qual for o contexto. E pelo que me é dado a entender, o PSD é quem tem mais adeptos que nunca mudam de partido.
Depois há aqueles que votam no PS só para o PSD não ganhar, e que anos mais tarde votam no PSD só para o PS não ganhar, daí que durante as décadas não se prevê que o paradigma mude.
Mas o queria desenvolver aqui é a minha teoria de que as eleições legislativas em Portugal, contrariamente às presidenciais e às europeias, são uma batota.
1. Círculos eleitorais
Os círculos eleitorais são um completamento enviesamento dos resultados apurados nas urnas.
Os votos no PSD, CDS, PS, BE e CDU corresponderam a 92,85% do total de votos válidos. Contudo, estes partidos ocuparão mais de 99% dos lugares na Assembleia da República. E isto porquê?
Porque de facto não se está a votar para um Parlamento, mas para 22 pseudo-parlamentinhos que não representam o todo e que privilegiam partidos com grande base local (por exemplo, a CDU no Alentejo). Portanto, os votos não são todos iguais. Custa muito fazer um único círculo eleitoral como nas eleições europeias?
Passemos a um caso prático: o PSD nos Açores e na Madeira concorreu separado do CDS (outro assunto a desenvolver adiante). Os 81054 votos que aí obteve chegaram bem para eleger 5 deputados; por outro lado, a diferença no país todo entre o BE e a CDU foi de cerca de 105 mil votos e apenas 2 deputados. O PAN com "o Estádio da Luz cheio" viu-se à rasca para eleger um. E o que dizer do PDR e do PCTP/MRPP, que com 60 mil votos cada um não elegeram nenhum? Isto é justo?
2. Os boletins de voto não são todos iguais
Que sistema é este que não põe os portugueses a votar todos por igual? Que impede que possa votar em certo partido só porque não estou no círculo eleitoral onde ele concorre!
E o que dizer dos partidos que nuns sítios concorrem juntos, e noutros separados? Portugal é diferente nesses sítios? Em Lisboa somos todos amigos mas nas Regiões Autónomas é cada um por si. O Parlamento não é o mesmo?
3. Aniquilamento dos "pequenos" partidos
Como já foi descrito no ponto 1, o sistema dificulta a vida aos designados "pequenos" partidos, que têm de conquistar os seus lugares na Assembleia da República a pulso. Por isso dou os meus parabéns ao PAN (de quem não tenho grande simpatia) e seguramente que para eles será mais fácil doravante eleger mais deputados, porque deixarão de ser falados apenas quando há eleições e defendem e promovem a única causa que verdadeiramente comove as pessoas, que é a elevação do cão a animal sagrado (como as vacas na Índia).
Os pequenos partidos ganharam mais de 120 mil votos em relação a 2011, e têm sido ignorados pelos meios de comunicação social quando fazem conjecturas sobre quem "roubou" os votos a quem. Vejam lá os números, se fazem favor.
E lá atrás dizia que eles têm de subir a pulso porque nunca têm oportunidade de esgrimir argumentos contra os grandes partidos.
Com a disseminação de meios de comunicação social que existem, seria interessante criar uma regra na qual todos os partidos estivessem presentes em apenas 3 debates individuais, com adversário definido por sorteio. A título pessoal, teria sido muito mais estimulante assistir aos seguintes debates do que àqueles a que estamos habituados:
Passos Coelho vs. líder do PAN
António Costa vs. Marinho e Pinto
Paulo Portas vs. líder do PNR
Catarina Martins vs. Rui Tavares
Jerónimo de Sousa vs. Garcia Pereira
E assim se veria até que ponto os pequenos partidos conseguiriam defrontar os grandes (uma Taça de Portugal aplicada à política, em vez da Liga dos Campeões) e criar um efeito-surpresa.
Agora é tempo de ouvir a mesma lengalenga de sempre: a "estabilidade", o "consenso", e outros termos tão caros ao politiques de que agora não me lembro...
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
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