Esta mensagem não se destina propriamente a comentar o falecimento de Eusébio, até porque sobre isso já tudo foi dito e as homenagens foram justas e estiveram à altura do Pantera Negra.
1. Queria era debruçar-me sobre o comportamento de algumas pessoas:
Luís Filipe Vieira: é um nabo como dirigente desportivo, mas vê-se que é alguém que sentiu muito a morte de Eusébio e esteve irrepreensível até ao funeral. O problema foi a partir daí: logo na noite do funeral, o anúncio de que em 2020 "70% do plantel do Benfica será português", e, domingo à tarde, a cartolina (ou lá o que era) que ele exibiu para homenagear Eusébio estava de pernas para o ar, tal como a de António Costa. António Costa deve ter um campo magnético estranhíssimo, pois quem está com ele desata a pôr de pernas para o ar o que deve deixar direito (recorde-se o episódio da bandeira nacional na cerimónia do 5 de Outubro).
Bruno de Carvalho: o rei da selva cumpriu com a sua obrigação moral, mas também não passou daí. Notava-se na sua expressão que achava que estava ali a mais e queria pirar-se o quanto antes.
Pinto da Costa: não esperava que o líder portista comparecesse às cerimónias fúnebres, até porque o seu historial cardíaco é um tanto duvidoso, tal como tudo na sua vida. Qual foi o meu espanto quando a Benfica TV o filmou no domingo a assistir sossegado ao jogo... Não entendo porque é que o Porto não enviou nenhum representante (é que nem um Folha!). E vá lá que o Benfica ganhou o jogo no domingo, porque se perdesse ainda assistiríamos no próximo fim-de-semana a uma inauguração de uma Casa do FC Porto em Leça do Balio ou sítio do género com Pinto da Costa e a sua ironia do costume.
Mário Soares: o país caiu em cima do vetusto político português, embora eu ache que foi claramente embirração. Como Soares não disse o que as pessoas esperavam que dissesse, passou logo a "polémico" (eufeisticamente) e ... (disfemisticamente). Recuperemos as declarações de Soares:
"Fiquei sempre com a ideia de que era um homem muito modesto e muito simpático". Até aqui, tudo bem.
"Foi sempre muito português, depois de deixar de ser futebolista". Também não estou a ver o problema.
"E ele foi uma grande figura de Portugal, isso é evidente. Toda a gente conhecia o Eusébio em toda a parte do mundo". Exactamente.
"Era um homem agradável, um homem bom... com pouca cultura, mas também não se estava à espera que ele fosse um pensador". Eh pá, isto é incrivelmente ofensivo. A minha sorte é que eu conheço algumas pessoas agradáveis e boas, com pouca cultura, e não estou nem nunca estarei à espera que sejam uns pensadores, nem me importo com isso. E o leitor, não conhece?
"Não sabia que ele estava doente, sabia que bebia muito whisky todos os dias, de manhã e à tarde, isso sabia". Quando o Maradona morrer, livrem-se de dizer o que é que ele consumia.
Assunção Esteves: completamente absurdas as suas declarações em relação à trasladação de Eusébio para o Panteão Nacional. (A propósito de Panteão Nacional, deixarei um comentário para o fim da mensagem.) Soares falou em falta de cultura e em whisky, mas a segunda figura do Estado reduziu Eusébio a uma questão de dinheiro. Sintomático.
Adeptos do Porto e do Sporting que homenagearam Eusébio: há portistas e sportinguistas que têm juízo e fair-play. São bons para se ter uma conversa e sabem respeitar e dar-se ao respeito.
Adeptos do Sporting no Estoril - Sporting: o costume.
Adeptos do Porto no Estádio da Luz: a maioria esteve quieta, mas há sempre uns arruaceiros que depois até se esqueceram de mandar tochas para o autocarro do Porto.
Alguns adeptos do Benfica que foram ao Estádio da Luz no dia 5: era uma chicotada nos testículos que vocês viam como é que era. As filas existem para serem respeitadas.
2. O país e os deputados exigem Eusébio no Panteão Nacional. Eu também tenho achado que Eusébio é uma figura maior da nação lusitana, mas resolvi procurar quem está no Panteão Nacional. Ao que consta, de acordo com a lei 28/2000, as honras do Panteão destinam-se a “perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
Aparentemente, segundo estes critérios, Eusébio não pode ir porque não expandiu a cultura portuguesa nem criou literatura, arte ou ciência. O que são serviços prestados ao país? Os de Rui Machete?
Mas voltemos à companhia tumular: esperava eu um Infante D. Henrique, um Eça de Queiroz, um Aristides de Sousa Mendes, mas qual quê: Óscar Carmona (!), Guerra Junqueiro (o leitor sabe quem foi? Eu por acaso até sei), João de Deus (não confundir com o treinador do Gil Vicente - ah, outro que esperava encontrar, o Gil Vicente dramaturgo) e Sidónio Pais!
É que para ter esses colegas se calhar mais vale ficar onde está.
Descanse em paz.
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