sábado, 24 de dezembro de 2016

Pronúncias tortas

Por que razão muitos dos que têm voz na comunicação social portuguesa pronunciam mal os clubes estrangeiros que eu vou indicar? Não se lhes exige que sigam à risca a abertura ou fechamento das vogais ou que articulem sons que não existam em português. Ordenemo-los do menos para o mais escandaloso:

4. Dijon (França). Há quem pronuncie aquele J como se fosse espanhol (confundindo Dijon com Gijón)...

3. Getafe (Espanha). Tudo bem que aquele G tem um sim que não existe em português, e eu acharia aceitável pronunciar a palavra como se fosse portuguesa (“Jetafe”). Agora ”Guetafe”?!

2. Leganés (Espanha). Esta então nem tem confusão possível, mas há quem consiga dizer “Legânes”.

Nenhum dos três clubes citados tem um historial por aí além, pelo que a falta de hábito em ouvir estes nomes potencia os erros que referi. Além disso são clubes que praticamente só se ouvem na comunicação social especializada no desporto. Mas o que falta é pior.

Leverkusen (Alemanha). O idioma germânico não é propriamente simpático para o comum dos mortais. Ultimamente têm aparecido uns clubes com uns nomes bem jeitosos, como o Ingolstadt, o Eintracht Braunschweig ou o Greuther Fürth (todos os anos anseio que o Erzgebirge Aue suba de divisão).
Mas o Leverkusen é uma equipa com outro nível, e que frequentemente defronta o Benfica ou o Sporting, e por isso mesmo muito mais profissionais são obrigados a pronunciar o seu nome. O U lê-se como o “U” de “uva” e o S está entre vogais e, tal como em português, lê-se como o S de “casa”. Quem inventou o “Leverkyussen”?

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Pedro Dias

Pedro Dias: derrota em toda a linha da CMTV. E é mais que certo que ele se entregou porque temia estar a perder protagonismo para a parelha Hillary Clinton / Donald Trump. E a partir de agora pode ter uma data de editoras atrás dele, até porque toda a gente vai querer ler o livro "A Minha Fuga - Conheça a história da fuga mais célebre do país por quem a presenciou. O lado humano e comovente de um fugitivo" - e convém que se despache, até porque o Moita Flores já deve ter começado a pegar no assunto.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Carro Queimado

Nem sei porque é que o homicida de Aguiar da Beira não incendiou um carro. Ficava o melhor título da história: "Carro queimado em Carro Queimado".

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

E SE FOSSE CONSIGO?

Ouvi dizer que a rubrica "E SE FOSSE CONSIGO?" da SIC regressará à antena brevemente. Vários temas foram abordados na primeira temporada: maus-tratos a idosos, alcoolismo, bullying, racismo, excesso de peso, violência doméstica, entre outros. À partida, parece que não restam muitos mais assuntos a serem abordados.
Todas as situações retratadas passavam-se na rua, procurando captar a reacção dos transeuntes que assistiam às cenas. Ora, o motivo deste texto é o de imaginar situações (não forçosamente à vista de toda a gente) que também merecessem um "E SE FOSSE CONSIGO?" dito de forma bruta e ameaçadora.

Situação 1: Benfiquista é levado a assistir a um jogo de futebol no meio dos Super Dragões

Um benfiquista compra um bilhete para assistir ao jogo do clube da sua terra, que milita nos distritais, e que vai receber o FC Porto na 4ª eliminatória da Taça de Portugal. Nestas ocasiões os bilhetes são vendidos muito rapidamente, e o "nosso" adepto benfiquista tem de levar com a tortura dos Super Dragões para poder assistir ao jogo no estádio.

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 2: Estudante muçulmano nas praxes académicas

É a época das praxes académicas. Um grupo de jovens (?) vestidos de preto insta um caloiro a responder "Ámen" à seguinte premissa (embora esses jovens não soubessem o que significa "premissa"): "Em nome do Dux, do teu amo e da tua condição desprezível".
Ora, acontece que o estudante em questão professa a religião islâmica, pelo que nem lhe cabe na cabeça submeter-se a semelhante tratamento. Vendo aqui o lançamento das sementes para um possível ataque terrorista, o grupo de jovens recita o seu cântico satânico:

"F-R-A! FRÁ! ***** F-R-E! FRÉ! ***** F-R-I! FRÍ! ***** F-R-O! FRÓ! ***** F-R-U! FRÚ!

FRÁ! - FRÉ! - FRÍ! - FRÓ! - FRÚ!

ALIQUÁ QUÁ QUÁ! (bis)

CHIRIBIRIBI-TÁ-TÁ-TÁ! (bis)

HURRA! HURRA! HURRA!

Aserejé ja de je 
de jebe tu de jebere
seibiunouva majavi

an de bugui an de güididípi"

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 3: Indivíduo do BarclayCard interpela Testemunhas de Jeová

Vão duas Testemunhas de Jeová a caminhar num centro comercial [Eu sei que nunca ninguém viu duas Testemunhas de Jeová num centro comercial] e nisto são abordadas pelo/a representante da Barclaycard, que está no seu trabalho honesto de assediar quem por ali passa para que subscreva o cartão de crédito PremiumUltraPlusGold, de forma totalmente gratuita e sem qualquer mensalidade ou anuidade, por apenas 9,99€ por mês.
Vendo-se nesta situação desconfortável, as Testemunhas de Jeová perguntam-lhe se gosta de ler e se sabe o que é a Verdade.

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 4: Testemunhas de Jeová interpelam indivíduo do BarclayCard

Vai um/a representante do Barclaycard na rua [Eu sei que nunca ninguém viu um representante do BarclayCard na rua] e nisto é abordado/a por duas Testemunhas de Jeová, que estão no seu trabalho honesto de abordar quem por ali perguntando-lhe se gosta de ler e se sabe o que é a Verdade.
Vendo-se nesta situação desconfortável, o/a representante do BarclayCard propõe a subscrição do cartão de crédito PremiumUltraPlusGold, de forma totalmente gratuita e sem qualquer mensalidade ou anuidade, por apenas 9,99€ por mês.

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 5: Criança chora sem parar num restaurante

Um casal está num restaurante com o/a seu/sua filho/a. A criança, de muito tenra idade, desata a chorar e a berrar sem cessar, para evidente embaraço dos pais, que não estão a conseguir conter a situação.
Todos os clientes do restaurante, que já não suportam o choro e os berros da criança, fitam o casal com aquele olhar do género "A criança pára com isso, ou quê?", mas sem dizerem uma palavra.
As alternativas são as seguintes:

Alternativa 1: O pai aplica um sopapo na criança, que chora por ter levado um sopapo mas dali a 20 segundos passa a estar quieta.
Reacção dos espectadores: "Isto é inadmissível, no século XXI ainda há pais a baterem nos filhos".
Alternativa 1a: Exactamente o descrito antes mas com o pormenor de os pais serem estrangeiros - a reacção já passa a ser a seguinte: " Isso é assim mas é na vossa terra".
Alternativa 2: Os pais ficam-se apenas pelas advertências verbais e a criança continua a chorar. Os espectadores vão dizendo entre dentes "Estes pais agora não têm mão na canalha! Isto comigo era uma chapadona que ele/a nem piava".

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 6: Indivíduo vai estacionar, mas está lá um Smart escondido

Dia de Outono, com vento e chuva. O indivíduo procura um lugar para estacionar perto de casa e vê um lugar disponível. Coloca o carro no ângulo adequado para estacionar o carro rapidamente, mas para sua desgraça lá está o Smart da vizinha do prédio ao lado e que não se via a 10 metros de distância. O indivíduo é forçado a estacionar a 100 metros de casa e vem para casa carregado com uma infinidade de coisas, enquanto a vizinha do Smart assiste à janela divertida com a situação enquanto fuma o seu cigarro. O indivíduo abre a porta do prédio, e nisto repara que alguém acabou de tirar um carro do estacionamento mesmo à frente da porta do seu prédio.

E SE FOSSE CONSIGO?


Situação 7: Indivíduo esmaga uma mosca no local errado, à hora errada

Num almoço de colegas, um indivíduo, farto da presença da mosca a esvoaçar em seu redor, consegue, juntando as palmas das mãos rapidamente, esmagar a mosca no seu voo. Faz para os outros aquele sorriso de "Aposto que vocês não eram capazes!" - o problema é que à sua frente está um ambientalista e defensor dos direitos dos animais, que lhe ensina em tom ríspido que acabou de danificar o ecossistema e que está a contribuir para a extinção da espécie.

E SE FOSSE CONSIGO?


Agora não me lembro de mais. Se me lembrar, logo ponho noutra mensagem.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Sobre os Jogos Olímpicos

Sobre os Jogos Olímpicos: é muito fácil classificar como "decepcionante", "paupérrima", "fraquinha", "desoladora" ou usando termos análogos a participação dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos. Pudera, afinal de contas só a Telma Monteiro lá conseguiu trazer uma medalhinha de bronze (e nem sei como nem se aludiu ao facto de as regras do judo possibilitarem que se atribuam duas medalhas de bronze...).
Olhar apenas para o número de medalhas conquistadas é extremamente redutor. Que eu saiba, obrigados a ganhar medalhas só estão aqueles que regularmente se mostram claramente superiores aos outros (ex: equipas de basquetebol dos Estados Unidos). Foi só uma medalha? Paciência.
O que se tem notado, sobretudo desde o início do novo século (e felizmente tenho dados que o podem provar), o nível médio dos desportistas portugueses tem subido EM VÁRIAS MODALIDADES e cada vez mais se aproxima dos lugares de topo. É isto que é importante salientar (se é que é importante salientar). As medalhas são obtidas por atletas excepcionais que tiveram um ou vários dias que correram melhor que os de outros atletas excepcionais.
Ainda aqui há um mês, toda a gente exultava: selecção portuguesa campeã europeia de futebol, selecção portuguesa campeã europeia de hóquei em patins, várias medalhas no Campeonato da Europa de atletismo... Agora chegaram os Jogos Olímpicos, e foi "a miséria que se viu".
Os Jogos Olímpicos são um evento que passa ao lado da esmagadora maioria da população portuguesa (basta ver os índices de audiências televisivas). Mas não falta quem, de quatro em quatro anos, veja o seu bacoco nacionalismo/patriotismo ofendido pelos atletas olímpicos, que afinal de contas praticamente ninguém conhece. Alguns foram campeões do mundo e/ou da Europa, mas isso pouco importa.
É algo que me causa estranheza: exige-se resultados a quem nem se conhece ou nunca se ouviu falar?
Proponho o seguinte exercício: que atletas olímpicos seriam reconhecidos por pelo menos 1% da população portuguesa, se fossem apresentadas apenas fotografias do rosto dos atletas sem qualquer contexto (algo do género: "Sabe identificar esta pessoa?")?
Numa perspectiva optimista, apresento os seguintes nomes:
André Martins (futebol)
Bruno Fernandes (futebol)
Carlos Mané (futebol)
Bruno Varela (futebol)
Dulce Félix (atletismo)
Emanuel Silva (canoagem)
Fernando Pimenta (canoagem)
Edgar Ié (futebol)
Gonçalo Paciência (futebol)
Jéssica Augusto (atletismo)
João Sousa (ténis)
Nelson Évora (atletismo)
Patrícia Mamona (atletismo)
Ricardo Esgaio (futebol)
Rui Costa (ciclismo de estrada)
Salvador Agra (futebol)
Sara Moreira (atletismo)
Sérgio Oliveira (futebol)
Telma Monteiro (judo)
Tiago Ilori (futebol)
Tobias Figueiredo (futebol)
11 futebolistas em 21 desportistas. Quantas medalhas podiam ganhar estes 11 futebolistas em conjunto? Uma, só.
Haverá pelo menos 5% da população portuguesa que "já ouviu falar" desses nomes, aos quais acrescento:
Ana Rente (ginástica)
Ana Cabecinha (atletismo)
Gastão Elias (ténis)
João Pereira (triatlo)
João Silva (triatlo)
Marcos Freitas (ténis de mesa)
Marta Pen (atletismo)
Nelson Oliveira (ciclismo de estrada)
Tsanko Arnaudov (atletismo)
Teresa Portela (canoagem)
Tiago Apolónia (ténis de mesa)
Tomás Podstawski (futebol)
São muitos? Não.
Se não gostam de desporto, não vejam os Jogos Olímpicos se não quiserem, mas pelo menos não falem do que não sabem.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Cidadão antidocente

Esta mensagem já peca por tardia, mas tinha de aparecer.
É dedicada a si, cidadão antidocente que tem por hábito rebaixar os professores nas caixas de comentários do Jornal de Notícias ou no "Blog de ArLindo".
Como eu não o conheço, vou tratá-lo pelo nome que as Finanças o tratam quando entrega a declaração de IRS, pelo que não ficará ofendido se o tratar por sr. Sujeito Passivo.
O sr. Sujeito Passivo tem por hábito afirmar que os professores trabalham muito menos horas por dia que os restantes trabalhadores. Isto já foi confirmado por uns e rebatido por outros vezes sem conta, pelo que não vale a pena estar a insistir por aí.
Só peço que olhe para as fotografias em baixo e tente adivinhar quando é que eu estive a corrigir as 1303 páginas que aí vê, correspondentes a 540 classificações referentes a 135 alunos. Há quem tenha muito mais para fazer, pelo que nem me queixo do trabalho que tenho de fazer, assim como não me queixo do meu salário - não ganho mal, comparativamente a muita gente. Mas também não sou uma "gordura" do estado.
Voltando ao desafio que lhe coloquei, não elaborei nem corrigi esses testes ENQUANTO dava aulas aos alunos - aquilo que o sr. Sujeito Passivo considera que é aquilo a que se resume o meu trabalho. Talvez não acredite nos números que lhe apresentei, mas a indicação da espessura e do peso talvez lhe abram os olhos. Para rematar, tive alunos que se queixavam de que os meus testes "não tinham imagens" - pelo que não há espaços mortos.
O sr. Sujeito Passivo defende um ensino exigente, no qual os alunos sejam avaliados com rigor (e com toda a razão), até porque a exigência acabou com o final dos exames da antiga quarta classe. Por esse motivo, percebe que cada uma dessas 1303 páginas tem de ser vista e revista cuidadosamente.
Sr. Sujeito Passivo, eu sei que toda a gente tem o pior trabalho do mundo (ou é mal paga, ou pelos horários, ou porque se esforça muito, ou porque lida com anormais, etc.). Só peço que nos tente entender um bocadinho.