Com certeza já receberam um e-mail com o título "Portugal: diferenças entre 1979 e 2009", e onde numa das diferenças apontadas dizia qualquer coisa como:
"Portaste-te mal na escola e o professor deu-te uma surra.
1979: Em casa levavas mais, porque 'alguma deves ter feito'".
O caso que vou relatar de seguida deve ter, infelizmente, muitos casos gémeos pelo país fora e que espelham o vírus em que se tornaram os encarregados de educação do nosso país.
Conheço um professor que está a dar Inglês nas Actividades de Enriquecimento Curricular, para o 1.º ciclo.
Após quatro meses numa escola, a Associação de Pais veio dizer-lhe que prescindia dos seus serviços, porque alunas ficavam com dores de cabeça nas aulas por causa do barulho insuportável que ecoava na sala. De quem foi a culpa? Do professor, claro, era ele que os mandava fazer barulho, pelos vistos.
Depois, noutra escola, o mesmo professor vê um aluno a bater (mas bater mesmo com raiva) em duas colegas já à saída da sala, no final de uma aula. Para travar a situação, o professor segura no rapaz abanando-o com as mãos no pescoço (sem o apertar). O aluno chora, faz queixinhas à representante da Associação de Pais, e o professor conta o que se passou. Quando os pais vêm a saber do caso, semanas depois, de imediato fazem queixa directamente na DREL, sem conhecimento da Associação de Pais nem Conselho Executivo, e o professor fica a braços com uma eventual investigação da DREL por causa de umas mãos no pescoço (uma verdadeira brutalidade, uma vil situação de maus tratos a crianças, um eterno trauma para a criança, um quase homicídio). No meio disto tudo, a Associação de Pais reuniu com o professor e propôs-lhe duas soluções:
1- sair por si próprio;
2- continuar suspenso das actividades até que a DREL resolvesse o caso.
O professor saiu por si próprio, porque andar com a DREL atrás de si é mais ou menos semelhante a ouvir a música do programa do Provedor do Telespectador um milhão de vezes vezes seguidas.
Em conclusão, os paizinhos fazem o que querem dos professores. Consideram os seus meninos como cristais, que podem desobedecer à vontade aos professores, e se algo lhes acontece, a culpa é do professor, que não se pode indignar e muito menos reagir a actos de indisciplina e violência por parte dos alunos uns com os outros (quando não é com o próprio professor). O que fazer? Deixá-los assim? Esperar uns anos e ver os miúdos a fazerem o que querem, muito possivelmente a incorrerem na delinquência juvenil e a formarem grupos rivais desde cedo na adolescência? A usarem os meios mais nocivos para obterem tudo o que querem? A despreocuparem-se por completo pelo seu futuro?
E os pais, ficarão satisfeitos se um dia eles próprios forem as vítimas da ira dos filhos?
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