quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cristiano Ronaldo x Joseph Blatter = caricaturas de Maomé (ACTUALIZAÇÃO)

Custa-me a entender tamanha celeuma em torno das declarações do presidente da FIFA.
Para tudo isto contribuiu uma imprensa que mais não fez do que recorrer ao sensacionalismo mais primário para tentar (e conseguiu) criar uma onda de indignação e fazer do Cristiano Ronaldo uma vítima dos tentáculos da FIFA... Algo me diz que os nossos amigos Hugo Gilberto e Nuno Luz andaram por detrás disto.
Estive a ver o vídeo completo da parte da entrevista em que Blatter é instado a opinar sobre se preferia Cristiano Ronaldo ou Messi. A imprensa retirou as seguintes expressões:

"Messi é um bom rapaz e toda a gente gosta dele";
"O outro é como um comandante num campo de batalha", seguida de uma pequena encenação "militar";
"[Cristiano Ronaldo] gasta mais dinheiro no cabeleireiro";
"Prefiro Messi".

Mas se virmos com atenção todo o vídeo...
Em relação à primeira afirmação acho que todos estão de acordo.
Depois, eu sempre pensei que chamar um homem de "comandante num campo de batalha" era elogiar a sua capacidade de liderança. O suíço acrescenta que "é bom para o futebol ter jogadores com essa capacidade de liderança". Que humilhação!
Em relação ao dinheiro no cabeleireiro, Blatter termina a frase dizendo "mas isso pouco importa". Porque será que isto foi omitido?
Finalmente, termina dizendo "Adoro os dois, mas prefiro Messi". E se preferisse o Cristiano Ronaldo? Já não era escandaloso?
Ninguém gosta de Blatter, porque por definição ninguém gosta da FIFA ou da UEFA. Mas aquilo que se passou em Oxford está muito longe de ser uma humilhação, um assunto de Estado ou uma injúria à nação lusitana, de tal maneira que leve a petições, declarações políticas, e, quem sabe, concertos de homenagem, peditórios públicos ou manifestações.

Este assunto recorda-me o caso das caricaturas de Maomé que foram publicadas por um jornal dinamarquês aqui há uns anos e que levaram a que todo o Islão ameaçasse os autores das caricaturas e por extensão a Dinamarca e todos os seus aliados, sob o pretexto de ofenderem os dogmas religiosos. Aqui passa-se a mesma coisa: Cristiano Ronaldo é sagrado, e só os portugueses é que o podem satirizar.

Também se enfatizou o facto de Blatter se ter referido ao madeirense como "o outro". Na minha opinião, eu acho que o problema de Blatter ter falado em inglês (e eu acho que ele nunca se sentiu muito à vontade nisso) levou-o a perder o fio à meada no seu discurso. Disse "o outro", talvez pensando que se tinha referido a Messi como "Um", em vez de o ter tratado pelo seu nome próprio.
Nas palavras de um político qualquer português, Blatter teria tido uma declaração "infeliz", assim semelhante a Rui Machete.
Eu disse político qualquer português. Acho que sabem de quem estou a falar (é a terceira figura do Estado, a seguir ao Presidente da República e à presidente da Assembleia da República). Mas não disse o nome dele, apenas usei deliberadamente a expressão "um político qualquer português". Acabei de ser mordaz.
Mereço que a bancada do PSD apresente um voto de protesto contra mim
Mereço que haja petições na internet a pedirem que me despeçam do meu trabalho.

Com isto tudo Cristiano Ronaldo acaba por sair a ganhar.
Se vencer a Bola de Ouro, ganhou-a apesar de Blatter; se for Messi, lá vão dizer que é culpa de Blatter e se não for nem um nem outro as coisas arranjaram-se para não ofender ninguém.

Toda a gente sabe que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo são dois ases da história do futebol. A questão é que o futebol é um jogo colectivo, e o palmarès dos dois ao serviço das suas selecções nacionais cifra-se num Campeonato do Mundo de sub20 e numa medalha de ouro nos Jogos Olímpicos para Messi e nada para Cristiano Ronaldo. Nas selecções absolutas, nem um nem outro foram campeões do Mundo ou continentais.
Ponho-me a pensar se às vezes não querem fazer deles o Tsubasa Ozora / Oliver Tsubasa / Oliver Atton e o Kojiro Hyuga / Mark Lenders transpostos para a realidade. Um trata a bola como "sua amiga", o outro tem a vontade férrea de vencer (e tem mesmo; apesar da vaidade que demonstra, Cristiano Ronaldo prova e provará sempre que com uma bola nos pés tudo o resto é nada).
Nos desenhos animados, eles praticamente faziam tudo sozinhos. Mas o futebol a sério é diferente. São onze contra onze.

O futebol joga-se nas quatro linhas. Não se joga na imprensa.
Vivam Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Corridas para todos os "gostos"

Certamente que o leitor já terá notado que correr está na moda: hoje toda a gente gosta de se gabar que correu na Corrida do Tejo, na Maratona do Porto, nas pontes em Lisboa, seja em distâncias longas ou curtas. É bom sinal que a população portuguesa anda a sair do sofá (nem que seja uma ou duas vezes por ano) e está a assumir a actividade física como elemento integrante do seu bem-estar.
No entanto, estamos a assistir à profusão de eventos que mais parecem carnavais do que atletismo em si, senão vejamos:

Légua Nudista
Colour Run
Corrida do Pijama
Maratona do Cão
Secret Run

Com certeza estarei a esquecer-me de algum evento do género, mas creio que a amostra já é significativa. Assim, não se admire se um dia tivermos algo do género:

"Corrida do Orgulho Gay": sendo a única mancha da sociedade que tem uma marcha orgulhosa, já pode ter uma corrida orgulhosa.

"A Maior Corrida de Pais Natais do Mundo": Portugal é claramente a terra onde há mais Pais Natais a fazer o que quer que seja (alguns até oferecem presentes!)

"Run Nariz Vermelho": de cariz solidário, a "Run Nariz Vermelho" vai reunir milhares de palhaços (genuínos ou não) a correrem por uma boa causa.

"Campo Pequeno Run": inspirada nas famosas festas de São Firmino, em Pamplona, milhares de atletas tentarão correr desde a Praça do Saldanha até à arena do Campo Pequeno sem sofrerem um arranhão enquanto correm à frente, ao lado ou atrás de 6 grandiosos toiros da ganadaria de Rui Oliveira e Costa (isto é nome à corrupto, mas também podia ser nome de alguém com uma ganadaria). Prémio: um barrete de forcado e uma pega com os forcados do Aposento da Moita.

"Trail Parlamento": Os duros têm de subir 50 vezes a escadaria do Parlamento. Chegada emblemática à Sala dos Passos Perdidos.

"Corrida Regaste ao BPN": Os atletas tê de ir a correr achar o dinheiro que se perdeu com o BPN.

"Corrida das Sogras ao Colo": correr 1 km com a sogra ao colo, algo que metaforicamente a maioria das pessoas casadas ou divorciadas já fez.

"Blind Race": De olhos vendados, os atletas sentirão as dificuldades de orientação em corrida sem qualquer referência visual. De carácter solidário e com a presença de vários medalhados paraolímpicos.

"Corrida da Procissão de Velas": Isto teria muito mais pica se fosse em corrida.



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Eleições, João Sousa, Rui Costa e "Benfica"

Eleições autárquicas

As eleições autárquicas consagraram Judite de Sousa: o seu futuro ex-marido (segundo o que li) Fernando Seara levou um banho de todo o tamanho, e a conceituada jornalista conseguiu manter o suspense sobre o que iria passar na sua estação após o término daquele efémero acompanhamento das eleições: "... já a seguir, o novo programa apresentado por Teresa Guilherme" [sic]. Afinal era mesmo a Casa dos SIGRHEdos. (Eu sei que ninguém ou quase ninguém saberá porque é que eu escrevi SIGHREdos em vez de Segredos)

Na RTP, o novo positivista da política portuguesa, Paulo Portas [ena, 5 palavras em 6 começadas por P], estava todo contente por o CDS passar de uma para cinco câmaras municipais, referindo-se ao facto como "um aumento de 500%" [sic]. Façam bem as contas a ver se o aumento é mesmo de 500%. Vão ver que não é.
Continuou regozijando-se que Rui Moreira venceu no Porto porque o CDS se colou a ele. Mas alguém acha que Rui Moreira ganhou porque o CDS o apoiava. Toda a gente sabe que não é o CDS que influencia os votos no Porto. Se me disserem Pinto da Costa, Miguel Sousa Tavares e, até... o candidato a amante do Cristiano Ronaldo, Hugo Gilberto, até acredito.
Não seixa de ser curioso que tenha sido um independente anti-Lisboa a vencer a autarquia portuense. Será que é desta que o Porto vai deixar de ser "uma nação" para se constituir como um Estado soberano? Segundo as Nações Unidas, os povos têm direito à sua auto-determinação.

Ninguém falou que o derrotado em Vila Nova de Gaia foi Pinto da Costa - pelo menos, desconheço qualquer ligação entre Eduardo Rodrigues e o símbolo-mor da corrupção em Portugal.
O corrupto genético Guilherme Aguiar e o touro de lide do PSD Carlos Abreu Amorim vão mas é ficar sentadinhos a mandarem as suas larachas na SIC e na RTP, como tanto gostam. Poder, zero.

A RTP conseguiu enganar os telespectadores metendo um ticker com os resultados que volta e meia era desmentido por uns tais "ÚLTIMA HORA", que no caso de Vila Real foram um barrete total. O ticker a dar o PSD à frente em Vila Real só com 2 freguesias apuradas e o ÚLTIMA HORA a dizer "PS rouba [gosto do vocábulo aplicado à classe política] Vila Real ao PSD". Foi por pouco, mas o PSD é que ganhou.
José Rodrigues dos Santos anunciou que a emissão só terminaria após a contagem do último voto. Acabou e estavam centenas e centenas de freguesias por apurar.


João Sousa

João Sousa venceu o torneio ATP 250 de Kuala Lumpur, derrotando Julien Benneteau e conseguindo o maior feito de sempre do ténis português, se calhar talvez até a maior vitória portuguesa sobre a França desde a Batalha do Buçaco.
Não está em causa o mérito desportivo do vimaranense: ganhar qualquer torneio de ténis é bem difícil, porque o nível médio actual dos tenistas é bem elevado. Mas era um torneio ATP 250, o que equivale a dizer que era de 3ª categoria. Se fosse Benneteau a ganhar, teria o direito a um rodapézito em França.
A forma como a RTP deu a notícia foi no mínimo sui generis: o grande destaque pertenceu a Cavaco Silva (tanto ou mais que a João Sousa) e as imagens que mostraram de João Sousa foram de um jogo que não era o da final.


Rui Costa

No caso de Rui Costa já não houve Cavaco Silva. Rui Costa venceu a prova (algo injustamente para um adepto isento de ciclismo, porque se Joaquim Rodríguez fosse português e Rui Costa espanhol o resultado da prova seria considerado injustíssimo) e a RTP foi a correr a casa dos pais dele, uma vez que na RTP Porto toda a gente deve saber onde é que eles moram.
A dada altura Inês Gonçalves conta que a família de Rui Costa viu a prova "na televisão" [sic]. Ai foi? Das duas, uma: ou eles têm antena parabólica ou ainda conseguem apanhar a TDT espanhola. Nenhuma televisão portuguesa transmitiu a prova, o que é completamente inaceitável, ainda para mais tendo em conta que Rui Costa era candidato aos primeiros lugares (até podia ter sido ele a cair em vez de Rigoberto Urán, mas pelo menos a RTP tinha a obrigação de transmitir os Campeonatos do Mundo como faz durante muitos e bons anos).
Mais tarde, na internet, aparecem vídeos intitulados "Rui Costa cala comentadores espanhóis". Eu felizmente já vi muitas vezes ciclismo na TVE (com êxitos e desaires espanhóis) e estava curioso para ver o que tinha acontecido. Nada de especial, o ímpeto do comentador quase se apagou quando viu Rui Costa levantar os braços, seguindo-se um "Que lástima...". Provavelmente a maioria dos portugueses não sabe o que significa essa expressão em espanhol.
Ainda a propósito de comentadores calados, na sexta-feira no hóquei em patins a Argentina ganhou a Portugal, e Paulo Catarro teve de ficar cabisbaixo. Mas os espanhóis é que se calaram!


"Benfica"

"Benfica" e não Benfica, porque este Benfica só merece aspas. É uma imitação qualquer do Benfica.
Jorge Jesus vai na 5ª temporada no Benfica, com o seguinte saldo:
2009/10: com um onze-base constituído por Quim, Maximiliano Pereira, Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Javi García, Ramires, Ángel Di Maria, Pablo Aimar, Javier Saviola e Óscar Cardozo, foi campeão nacional na última jornada, saiu da Taça de Portugal no Outono e apanhou 4 de um Liverpool em declínio, tendo a equipa mais forte da Liga Europa daquela época.
2010/11: em Setembro, o campeonato estava perdido para o Porto; fez uma prestação miserável na Liga dos Campeões e conseguiu ser eliminado da Liga Europa pelo BRAGA (!) e esbanjou em casa uma vitória de 2-0 contra o Porto no estádio do Ladrão para a Taça de Portugal.
2011/12: no Carnaval, o Benfica tinha 5 pontos de avanço sobre o Porto. Acabou 6 atrás. Drogba riu-se às gargalhadas quando soube que ia jogar contra o Benfica, e tinha razão. Com suplentes o Chelsea ganhou os dois jogos; o Benfica não passou de Dezembro na Taça de Portugal.
2012/13: novamente o Benfica esbanja um avanço de 4 pontos, está a temporada toda sem defesa esquerdo, é outra vez eliminado da Liga dos Campeões com adversários como o Spartak Moskva e o Celtic (!), faz perde jogos decisivos aos 90'+2 minutos, perde a final da Taça de Portugal para o Guimarães depois de estar a ganhar e no fim de tudo isto começam todos à batatada.
2013/14: tudo recomeça como se nada fosse: Cardozo nem sai nem começa a época; Jorge Jesus é o maior; Guillaume Gillet afirma que o Benfica é a equipa mais fraca do pote 1 da Liga dos Campeões (alguém duvida disso?); o Benfica em 8 jogos oficiais só ganha 4; Jorge Jesus arma-se em Rambo em Guimarães, Luís Filipe Vieira perde uma oportunidade de ouro para se livrar dele sem pagar um cêntimo; o Benfica não joga NADA e está tudo bem.
Quando é que isto vai mudar? Será preciso ficar em sétimo lugar?