terça-feira, 27 de novembro de 2007

Acordo Ortográfico

Já estava na altura de falar no novo Acordo Ortográfico, que parece que mais cedo ou mais tarde entrará em vigor.

Note-se bem algumas das palavras que se mudarão e não se mudarão, segundo o linguista D'Silvas Filho:

"SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS (ct, cc, cç, pt, pc, pç, etc.)

É neste capítulo que as alterações serão mais significativas em Portugal, pois serão retiradas das palavras muitas consoantes que não são articuladas. Mas algumas variantes registadas no Vocabulário da Academia Brasileira de Letras também certamente deixarão de existir.

Conservam-se, sem alteração, no novo acordo, como no anterior, quando são invariavelmente proferidas nas duas línguas cultas Portugal e Brasil: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural, adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto, egípcio, opcional, etc.). Quando as consoantes são proferidas, mesmo restritamente, darão, no novo acordo, origem a duplas grafias: dicção/dição, sector/setor.. Mas se a pronúncia é diferente nos dois países, no novo acordo haverá também dupla grafia: aspecto/aspeto, cacto/cato, caracteres/carateres, facto/fato, ceptro/cetro, conceção/concepção, corrupto/corruto, recepção/receção. Como se explica melhor nas conclusões finais, repare-se que, nos casos de duplas grafias, pode-se continuar com a grafia anterior.

No novo acordo, há muitas palavras onde estas consoantes desaparecem, passando a escrever-se: ação, acionar, adjetival, adjetivo, adoção, adotar, afetivo, apocalítico, ativo, ato, ator, atual, atualidade, batizar, coleção, coletivo, contração, correção, correto, dialetal, direção, direta, diretor, Egito, eletricidade, eletro-ótica, exatidão, exato, exceção, excecionalmente, exceções, excetuado, excetuando, excetua-se, ex-diretor, fator, fatura, fração, hidroelétrico, inspetor, letivo, noturno, objeção, objeto, ótimo, projeto, respetiva, respetivamente, tatear. Nas sequências interiores mpc, mpç e mpt, se o p for eliminado, o m passa a n: assunção, perentório, suntuoso. Repare-se também que é fácil saber quando não se deve escrever a consoante: será quando não for articulada. (...)"


Ou seja: "objecto" fica sem o C, "aspecto" pelos vistos mantê-lo-á. ISTO TEM LÓGICA?! Que eu saiba, se as palavras portuguesas mantêm a dupla grafia NÃO É apenas por uma razão etimológica, é porque influenciam a vogal que está anteposta!

Continuando:


"Nas sequências bt, gd, mn, tm, o novo acordo deixa que seja facultativo conservar ou suprimir a consoante muda, o que dará lugar a duplas grafias, mas permite continuar com a grafia anterior: amígdala/amídala, amnistia/anistia, amnistiar/anistiar, aritmética/arimética, assumpção/assunção, assumpcionista/assuncionista, assumptível/assuntível, indemne/indene, indemnizar/indenizar, omnipotente/onipotente, omnisciente/onisciente, peremptório/perentório, súbdito/súdito, subtil/sutil, sumptuosidade/suntuosidade , sumptuoso/suntuoso. (...)"


Mal seria: agora tiramos consoantes sem mais nem menos? "Indenizar?" "Arimética"? Será que vou deixar de me chamar Edgar para passar a ser Egar?

Mais: parece que os acentos na primeira pessoa do plural dos verbos no pretérito perfeito do indicativo (e que só restavam nos verbos com tema em -a) vão desaparecer de vez, o que legitima dizer-se "Nós andamos" em vez de "Nós andámos". Na minha opinião, neste aspecto particular deveria haver mais acentos (como na ortografia anterior à actual) em vez de os tirar, só porque anda gente a queixar-se de que há acentos a mais (e qual é o problema?). E veja-se bem que neste caso particular da ortografia mesmo pelo contexto pode ser difícil distinguir o presente do pretérito perfeito.

"As terminações verbais êem deixam de ser acentuadas em Portugal e no Brasil (ex.: creem, deem, leem, veem, incluindo os verbos com as mesmas terminações (ex.: descreem, releem, reveem, etc.)". Mais um disparate: para mim estas palavras passam a ser agudas (ou oxítonas)!

"(Trema). Sem alteração para Portugal. O trema deixa de ser legal no Brasil nas sequências gu e qu seguidas de e ou i, quando o u se pronuncia (ex.: aguentar, frequente)." Neste caso é o próprio Brasil que fica a perder. O trema faz falta. Devia regressar à escrita em vez de ser definitivamente suprimido. Depois queixem-se dos "sekestros".


" Sem alteração na ênclise e na tmese, mas suprimido nas formas monossilábicas do verbo haver também para Portugal: hei de, hás de, há de, hão de." Agora sim, vamos ter os vírus "hades" e o "hadem" a propagarem-se!

"(Letras iguais no fim do primeiro elemento e início do segundo elementos) Sem alteração na generalidade, mas o novo acordo estende a regra a outras palavras tradicionalmente fundidas em Portugal e no Brasil, como: eletro-ótica, micro-onda. (...)" Finalmente alguma coisa com sentido!

"(inicial minúscula) Há algumas simplificações para minúscula no novo acordo: Escrevem-se com inicial minúscula: os meses e estações do ano também para Portugal: outubro, primavera". Já agora, porque não as fases da lua? :x

E assim querem "simplificar" o português...

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